Combinamos seguir viagem para Vila Cruz, distante oito quilômetros por estrada de chão. Deixamos o ônibus e optamos por uma caminhada de duas horas. Com sol ameno e poucas nuvens no céu, às 15h50min partimos. Alguns foram na frente; logo atrás o Sérgio e o PF; juntos conversavam, e seguiram o ritmo e a direção das águas do Rio Trombudo; deveriam ter entrado à esquerda na primeira bifurcação, na frente de uma capela; andaram mais seis quilômetros estrada abaixo; encontraram muitas bergamoteiras com frutos amarelos quanto deliciosos, e visitaram a localidade que recebe o mesmo nome do Rio. Ali chegaram à noitinha duas horas após; falaram com o Anderson no armazém dos Cargnelutti; o seu pai Décio permitiu que ele nos conduzisse de carro novamente a Novo Treviso; embarcamos no ônibus e rumamos agora pelo caminho que nos levaria até Vila Cruz; logo, na bifurcação da capela dobramos, e passamos por uma pequena ponte sobre o Rio Trombudo que indicava o início de uma longa subida; andamos dois ou três quilômetros morro acima por uma estradinha de chão pedregoso e firme tanto quanto estreita, como uma trilha no meio do mato; percorrendo as partes mais altas notávamos o vale iluminado pelas luzes das casas; num determinado momento surgiu dúvida; procuramos moradores pra solicitar informação; prontamente paramos na frente de uma moradia à direita da estrada, um menino, observado por uma mulher na porta da casa, vestindo uma camiseta vermelha do colorado nos atendeu dirigindo sua bicicleta; quando perguntamos sobre qual direção seguir, nos indicou.
Pouco antes das sete de uma noite fria de lua cheia chegamos na Vila Cruz. Tentamos encontrar a pousada; descemos pela rua em frente à igreja, dobramos à direita, mais dúvidas quanto a direção; tivemos que solicitar mais informações, inicialmente pra uma mulher que caminhava com compras pela calçada, de acordo com suas palavras deveríamos retornar pela subida e dobrar à esquerda; desci do ônibus pra auxiliar o Sérgio, enquanto ele manobrava surgiu o Gelson Pesamosca para comentar outra opção: poderíamos ir em frente e entrar na primeira à direita na Rua dos Imigrantes, andar uma quadra e encontrar a pousada; como os demais do grupo chegaram cedo, aguardavam relatos pra saber nosso passeio por outro local.
Fomos agradavelmente recepcionados pela família da Dona Leda Grandene Cargnin, mãe dos gêmeos Marcos e Maurício, e da Mariel e Matias, avó dos filhos do Márcio com a Sandra, a querida Júlia e seu irmão Eduardo, primos da graciosa Betina e José Humberto, caçulas da sua primeira filha Marinês e Humberto Stefanello, o genro do seu esposo Francisco.
Acompanhamos os preparativos da janta, que foi servida num salão no subsolo; primeiro conhecemos o delicioso licor de flores de laranjeira com cachaça. Na mesa posta saborosos pratos: massa al pesto, massa alho e óleo, polenta, queijo, carne de galinha, yakisoba, salada de alface, e os inesquecíveis sucos de uva e laranja.
Nas conversas com a Dona Leda ficamos conhecendo a receita da Flora Mato Grosso; muito digestiva, também combate o reumatismo quando a porção diária ingerida for uma colher de chá, entretanto, doses generosas deixam a pessoa demasiadamente alegre, e ou ébria. Pra ajudar na lembrança anotamos os ingredientes: casca de angico-vermelho, casca de mamica-de-cadela, casca de corticeira, cipó-mil-homens e cancorosa; preparado em quantidades semelhantes de todas as cascas numa pequena vianda, três pedaços de 5cm do cipó, sete folhas de cancorosa, dois litros e meio de álcool de cereais ou de cachaça. Deixar em infusão por três a quatro meses; após este período retira-se o líquido precioso; reserva-se em outra vasilha; acrescenta-se ao recipiente com as cascas mais dois litros e meio de álcool ou de cachaça; aguarda-se por mais quinze dias, então retira-se pela segunda vez, e mistura-se com o primeiro líquido; tem-se cinco litros da Flora Mato Grosso.
Ainda à noite ouvimos o Gelson cantar, pai das gêmeas Bárbara e Bibiana, filho da Dona Alzira Dalcin Pesamosca, residentes do casarão azul na esquina diagonal à Capela (igreja) de Santa Cruz.
Manhã nublada, muitas pessoas em frente do salão e igreja lotada. No domingo caminhamos nas redondezas. De cima do Morro da Cruz observamos o topo de muitos outros; notava-se que a localidade é composta por dois quarteirões de três ruas calçadas com rochas basálticas.
Conhecemos a fábrica de vassouras artesanais fundada pela família, agora aos cuidados do Gelson. Falando com dona Alzira ficamos sabendo que certa vez ela ajudou a confeccionar 12 dúzias do produto num dia de trabalho, e que jamais reclamaram da qualidade. Comentou que está com oitenta anos, apresentou as netas, mostrou-me as dependências internas do casarão, fotos coloridas da família com casamento dos filhos , uma das quais com a Bárbara e a Bibiana sorrindo com um cesto nos braços embaixo de uma videira. Lamentou a morte do seu Ivo, há quatro meses.
Apesar de um farto e apetitoso desjejum, todavia, apenas comento o revigorante suco de couve com hortelã e banana. Às 13hoomin um almoço com muito risoto, carne de porco, salada de alface, e omelete com queijo.
Conhecemos casarões com paredes largas construídas com rochas irregulares. Às 14h21min embarcamos no ônibus do Sérgio, e ciceroneados por Dona Leda e Roberto Spanevello na estrada em direção a Novo Paraíso. Rodamos cerca de três quilômetros até a propriedade com benfeitorias realizadas pela família de Olinto Facco. No caminho não paramos para contar um bando de quinze maçaricos-pretos forrageando no banhado; ademais, ficamos alguns minutos observando um ouriço pousado num galho de um eucalipto, quando caminhávamos na trilha do mato nativo na propriedade do Vitélio Stefanello.
Nos arredores do casarão de pedra dos Facco, um gatinho e um cachorro mansos, nas hortas muitas laranjeiras cobertas de frutos igualmente amarelos; Roberto deixou todos à vontade pra apanhar frutas. A Adéli e a Neci preferiram as flores cor-de-rosa de uma camélia.
Voltamos para pousada. Embarcamos num microônibus escolar dirigido pelo seu Chico. Andamos dez minutos em direção a Linha Cinco. Entramos à esquerda depois da Capela São José. Caminhamos por trilhas na propriedade do Vitélio, numa mata nativa de 24 hectares. Fomos recepcionados pela Marinês Stefanello; ali o Ivan fotografou urubus-de-cabeça-preta pousados nos galhos de uma figueira enorme; observamos um jacú caminhando nos ramos de outra frondosa árvore; seguimos mato a dentro por um caminho limpo, muitas folhas secas no chão com grande densidade de árvores e arbustos de pequenos diâmetros, indicando ser uma floresta nova. Ouvimos o Vitélio comentar sobre o incêndio na casa que estava construindo. Encontramos na trilha, entre as árvores, um cipó-mil-homens; quando solicitada Dona Leda macerou, e cheirou uma pequena amostra de sua casca pra identificá-la.
Nos despedimos por volta das 17h30min. Partimos em direção a Nova Palma; descemos por uma estrada íngreme e conservada de chão batido. Paisagens recortadas por morros, ora razoavelmente cobertos por vegetação arbórea nativa, ora com lavouras e casas nos vales. Andamos oito quilômetros para avistar a cidade. Enquanto cruzávamos pela rua da igreja, notamos as enormes tipuanas plantadas nos dois lados da calçada. Dali rodamos mais 16Km numa estrada vicinal asfaltada ao longo do Rio Soturno. Por volta das 18h25 passávamos sobre os 113,55m da ponte de concreto que marca a divisão de Faxinal do Soturno com São João do Polesine. Quinze minutos depois entrávamos na movimentada RS 287. Às 19h10min Caroline, Adéli, Daniel, Valter, Cristina, Martha, Ivan, Eusa, Helmut, Neci, Marta e Sérgio chegaram novamente em frente ao Hotel Appel.
Santa Maria, 09 de Julho de 2009.
Parabéns pelo belo blog, com lindas fotos e texto agradabilíssimo de ler.
ResponderExcluirTenho a mesma paixão pela fotografia.Ando sempre com minha Cannon no bloso da permuta e bato uma média de 150 fotos por semana (já fui mais compulsivo, chegueia fotografar 300 por semana). Escolho as melhores fotos e, além de colocá-las em meus 3 blogs, mando revelar e colocar nos álbuns de 200 fotos. Já tenho um acervo de 2000 fotos reveladas em tamanho postal e papel brilhante desde 8 de março de 2009, data em que - finalmente - consegui sair de Santa Maria e concretizar meu sonho : morar em Canasvieiras, a 10 metros do mar, de onde pretendo sair só morto. Esta ilha de Florianópolis realmente é a ilha da magia. Faz quase dois anos que ando apenas de bermuda, estou preto. Em ocasiões muito "cerimoniosas" coloco chinelo ou tênis e uma camiseta sem mangas...rsssssss
Convivo com pescadores, com os nativos e manezinhos em geral, estou estudando muito tudo sobre a ilha, ecologia, história, etc...Aprendi a me descondicionar de tudo, me despojar de todas as frescuras da vida acad~emica e fujo de mestrados me doutorados como o diabo foge da cruz...Já tive 3 convites pra dar aulas em universidades daqui, mas não pretendo mais frequentar o ambiente da academia porque ele ficou infectado de inveja, ciume, concorrência, fogueira de vaidades e onde não há mais um pingo de solidariedade, humanismo e amizade real. Cumpri minha obrigação no trabalho, formei e casei 3 filhos e agora quero apenas virar um bicho do mar...e se Deus for generoso comigo, ver meus 5 netos encaminhados na vida e envelhecer com saúde ao lado a Vera Maria.
A felicidade é uma coisa só encontrada nas coisas singelas e longe dos holofotes. Ainda tive tempo de aprender isso.
Um abração fraterno !
James Bond+...rssssssssss